Nascido em 16 de maio de 1981, Santo André - São Paulo. Aos 21 anos jogou profissionalmente futebol pelo time Guapira, e aos 26 anos jogou profissionalmente na Espanha por cerca de um ano e seis meses; voltou para o Brasil e mudou-se para o estado de Minas Gerais onde residiu por seis meses e viajou para o norte da Itália. Em 2010, mudou-se para São Caetano do Sul onde iniciou seus estudos em Comunicação Social na USCS e começou a militar pela DCE. Participou da criação da chapa Atlética Geral e ativamente de projetos sociais. Graduou-se em Publicidade e Propaganda, e Rádio e Tv. |
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Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS)
Núcleo de Pesquisas Memórias do ABC e Laboratório Hipermídias
Depoimento de Alexandre Sousa Vieira, 32 anos.
São Caetano do Sul, 24 de junho de 2013
Transcritora: Luciana Cunha
Pergunta:
Tranquilo?
Resposta:
Tranquilo.
Pergunta:
Então está. Vou pedir só a gentileza para que você então não olhe para a câmera, para que você olhe para mim durante a entrevista. Para começar, eu vou pedir a gentileza de que você fale o seu nome completo, a sua data de nascimento, dia, mês e ano e o local onde você nasceu.
Resposta:
Está bom. Meu nome é Alexandre Sousa Vieira, eu nasci em 16 do cinco de 1981 e eu sou de Santo André.
Pergunta:
[É, os seus pais...] Qual a origem da sua família?
Resposta:
Por parte da minha mãe, minha mãe veio do Maranhão, descendente de índio, de uma cidade muito pequena do Maranhão, Rosário, e o meu pai de São Paulo, só que a origem do meu pai é portuguesa e italiana, o vô português e a vó... os pais dela tudo italiano. A família inteira da minha avó nasceu na Itália, só ela que nasceu aqui. Eles são de Treviso, norte da Itália.
Pergunta:
Você tem irmãos?
Resposta:
Tenho, tenho. Tenho uma irmã mais velha que se chama Sirlei, é uma escadinha em casa, a Sirlei, a Manoela e o Emerson. Nós somos em quatro irmãos.
Pergunta:
E você está onde nessa escada?
Resposta:
Eu sou... o segundo. Eu sou o mais velho, porque a mulher, né? Eu me intitulo o cabeça da casa por ser o homem da casa. Então tem a minha irmã, a Sirlei que tem 33, eu tenho 32. Então eu me considero assim o que cuida dos irmãos. Embora eu tenha minha mãe e meu pai ainda, graças a Deus, mas eu me intitulo assim o que tem que defender os irmãos. E tem mais um ainda que é agora, nós temos o... um sobrinho, que é o tesouro da família, chama Eduardo. Ele mudou a casa agora, que é do caçula, que teve filho, então hoje nós temos o Eduardo que é nosso tesouro da casa, todo mundo cuida, o galeguinho da casa.
Pergunta:
Como era a sua casa durante a sua infância? Como era o bairro, a sua casa?
Resposta:
Não, bairro normal, assim... No começo era muito difícil, nós somos em quatro irmãos. Meu pai trabalhava numa metalúrgica, metalúrgica não, trabalhava na Volks, depois ele saiu da Volks e foi pro Amazonas e depois pra Porto Velho. Em Porto Velho ele sofreu um acidente e isso aí atrapalhou o rumo da nossa vida porque ele quase morreu, a minha mãe teve que sair daqui de São Paulo para buscar ele. Então depois disso, a minha casa antes do acidente era uma coisa, o meu pai, vida estável, depois disso, a gente passou muita dificuldade, morando em casa pequenininha. Imagina quatro irmãos morando em dois cômodos como que é difícil? Mas a gente foi se superando, pouco a pouco a gente foi se levantando. "Pouco a pouco" que eu digo assim anos, muita dificuldade, muita, muita, quatro irmãos que passavam muita dificuldade, mas todo mundo junto. Eu aprendi assim, somos muito unidos, os quatro, muita dificuldade, mas sempre junto. Eu acho que essa dificuldade ajudou, mudou muito o meu caráter de querer ajudar as pessoas justamente pelo que eu passei quando era criança, então eu tenho muito isso dentro de mim, ajudar, mesmo que eu tenha que tirar o meu, ter falta de algo, mas ver outra pessoa tendo, isso é uma característica minha, da minha família, os quatro é assim justamente pela dificuldade que nós passamos enquanto éramos criança.
Pergunta:
Vocês brincavam do que?
Resposta:
Ah, mais futebol, né? Era todo mundo envolvido com futebol. Futebol, vôlei, isso aí acho que... Mas mais era futebol, todo mundo. Minhas irmãs também, meu irmão, eu também, então... Eu acho que brincava disso porque o videogame a gente não tinha, né [riso]. Quando a gente pegou um videogame era emprestado e quando eu ganhei um também não funcionava, estava lá, mas não funcionava, era um videogame japonês, aqui não funcionava, era a maior guerra pra funcionar. Então, não era nossa brincadeira. E jogos, a gente ganhava muita coisa. Minha mãe trabalhava de faxineira nessa época. Depois que meu pai se acidentou, ela não trabalhava antes, ela cuidava só da casa e aí, quando meu pai se acidentou, ele ficou um tempo sem trabalhar e aí minha mãe começou a trabalhar aqui em São Caetano. Hoje, São Caetano, eu estar aqui, parece que foi uma coisa predestinada, não foi uma coisa "ah, eu vim pra cá', São Caetano chamou. Minha mãe começou a trabalhar de faxineira aqui num estúdio e aí, desde criança, comecei a vir para São Caetano e gostar de São Caetano. E aí comecei a ter esse amor de criança, estou dizendo dez anos de idade, 11 anos de idade. Então a gente era novinho e, de vez em quando, a gente vinha pra cá, ali na __________, uma travessa da Visconde. Nisso, comecei a gostar de São Caetano, meu sonho era vir pra São Caetano. Até então, a minha Colação de Grau em 95 foi no Teatro Paulo Machado, aqui na Kennedy, e depois do terceiro colegial foi no Externato Santo Antonio aqui na Goiás. Então, São Caetano estava me namorando desde criança [riso]. [5']
Hoje, vendo todo esse contexto, vendo como as coisas acontecem, natural, tem coisas que é pra gente e quando foi em 2010 aconteceu de vir aqui para São Caetano, que não foi fácil. Eu não morava aqui antes, eu fiquei um tempo fora, eu fiquei quase dois anos morando fora do país. Em 2009 foi a última vez que fiquei fora do país.
Pergunta:
Só para a gente entender essa trajetória, você foi para fora do país como? Você foi para trabalho?
Resposta:
Na verdade, eu jogava bola. Com 21 anos eu profissionalizei, só que futebol é muito difícil. Eu nunca consegui atingir o que eu queria financeiramente, mas pessoalmente eu descobri no futebol que o que eu queria mesmo era provar que eu era capaz, porque onde eu vivia, eu moro em frente a um campo e era o mais magrinho: "Ah, você nunca vai conseguir". Sabe aquela coisa de todo mundo ficar falando "Você não vai conseguir", "Você é ruim", "Você é _______" e aquilo, de uma forma, me bloqueou. Eu era tímido, eu era muito tímido. E eu falei "não, eu vou conseguir, eu vou conseguir, eu vou treinar, algum dia eu vou conseguir alguma coisa". Em 99, eu fui para a Espanha e fiquei um mês lá, só que acabou não dando certo. Fiquei um mês em um clube lá, no sul da Espanha, fiquei no Villarreal, fiquei um mês treinando num clube lá e aí acabou não dando certo.
Pergunta:
Mas como é que você foi para lá?
Resposta:
Eu estava em um time de Várzea e o meu amigo estava morando na Espanha. Ele conseguiu uns contatos e falou "Ah, eu arrumo uns testes para vocês". E aí, um amigo, um empresário, me deu a passagem e eu fui com uns amigos. Até saiu no jornal e tudo, eu tenho até hoje, guardado esse jornal, mas só foi um mês. Só que quando eu voltei, eu fiquei muito frustrado porque aquele era o sonho. Você imagina, 19 anos só tem tamanho, é um moleque, não tem a personalidade ainda formada, enfim. E aquilo me frustrou muito, eu fiquei muito frustrado, muito, muito, muito, muito, não queria saber mais de nada. "Deus podia ter sido mais generoso comigo". E aí fiquei... 19, batalhando. E aí depois, quando foi com 21 anos de idade, eu profissionalizei em um time, Guapira, B1, mas para quem era o sonho conseguir mostrar para as pessoas, eu estava mais preocupado em mostrar para as pessoas do que em realização pessoal. Hoje eu vejo isso muito claro. Com 21 anos eu profissionalizei, três meses de campeonato, mas para mim foi meu ápice do sucesso. E aí, eu ia fazer uma viagem pro Sergipe. Na semana que eu ia pro Sergipe, que já tinha dois amigos meus lá, eles iam disputar a primeira divisão, e eu estava bem, estava confiante, eu quebrei o tornozelo [riso]. E aí falei: "Agora já era, agora parou de vez". Fiquei um ano de molho, sem dinheiro, desempregado, difícil. Nem imaginava estudar nessa época, o meu negócio era jogar bola. Então eu trabalhava, fiquei um ano parado, arrumei um emprego à noite num estúdio. Nesse estúdio trabalhava de segurança à noite para eu conseguir sustentar a minha fisioterapia, embora a minha fisioterapia era de graça, porque eu arrumei com o COB, Confederação Brasileira, ali no Centro Olímpico com um amigo, mas eu tinha que pagar o ônibus, tudo e enfim... Durante um ano eu fiquei só na fisioterapia. Eu fiquei um ano de fisioterapia, um ano. Depois disso, eu fiquei treinando, treinando, treinando, treinando... Um sonho mesmo, eu já estava com 23 anos: "Alguma coisa vai acontecer, vai acontecer alguma coisa, não é possível, treinei demais, me dediquei muito". Um amigo meu foi para a Espanha: ‘Xandão, você pode vir aqui no clube que eu estou, você vai ter o tempo seu para treinar". E isso eu estou falando com 26 anos, hein! Olha a vontade de vencer que eu tinha, de tanto que eu queria vencer. Fui para lá, não fiquei no clube, discuti com o treinador, ele não gostou de mim, começou a tratar eu mal, falei "não vou ficar aqui", isso no sul, eu fui para Andaluzia, fui para a cidade Granada, cidade linda, maravilhosa, fiquei lá três meses. De lá, fui para o norte da Espanha, para Santander, aí eu consegui! [expressão de felicidade] Lá eu consegui profissionalizar no time, assinar, assinei dois anos nesse clube, fiquei um ano e meio só, depois eu voltei. Ali eu me realizei. Quando eu consegui assinar o contrato, pagava pouquíssimo, mas não era o dinheiro em si, era a realização pessoal que eu buscava. E aí foi, né... Fiquei lá, ali foi, para mim, a melhor experiência da minha vida. Fiquei um ano e três meses de _____ a _____, fiquei um ano e seis meses longe de casa sem voltar para o Brasil. Aprendi muito, conheci a Espanha quase toda de carro. O tempo que eu tinha de férias, dois, três dias, eu pegava o carro. Naquela época era mais fácil para comprar as coisas, aqui eu nunca tive carro, lá eu tive. Hoje eu tenho, mas na época eu nunca tive um carro e foi muito bom. Depois disso, voltei para o Brasil, fui para Minas, fui trabalhar na diretoria de um clube aqui em Minas, em Pouso Alegre, fiquei só seis meses, depois fui para a Itália. [10']
Levei um atleta, mas foi breve a Itália. Na Itália eu conheci onde meus, a minha família nasceu, foi o maior presente que, um dos maiores presentes que Deus já me deu foi ter conhecido a cidade onde a minha bisavó e meu bisavô nasceram, porque embora eu falei no começo do vídeo que minha avó era de família italiana e portuguesa, só que da minha avó era italiano com francês. Por parte de pai da minha avó, meu bisavô era de Treviso. Por parte de bisa, ela era da França, então era... [gesticulou com as mãos dando a entender que era misturado]. E eles não queriam que ele casasse com a minha avó, então era aquela rivalidade italiana com francês. E aí eu tive essa oportunidade de conhecer a Itália, sempre norte da Europa, nunca conheci o sul, sempre frio, o norte da Itália, aliás, norte da Itália, norte da Espanha muito, muito frio mesmo. E lá eu fiquei um mês e meio e nessa minha... Treinando porque era uma cidade com 3000 habitantes, muito frio, perto da Eslovênia e Áustria, fiquei em Údine. Parei, eu vi que ali eu tive esse pensamento, eu estava mais ligado à realização pessoal do que mostrar para as pessoas que eu consegui. Depois que eu tive essa maturidade, eu falei "não, agora eu vou estudar". Ninguém entendeu, porque eu tinha ido para ficar um ano lá, todo mundo gostava de mim, diferente, o que eu ganhei de bom na Espanha, a Itália era dobrado, na Itália foi o melhor, foi mais mordomia, foi mais qualidade de vida e olha que a qualidade de vida da Espanha é excelente, mas da Itália é muito bom também. E aí eu saí. Simplesmente, cheguei no presidente e falei "estou indo embora, tem mais um atleta aí, ele vai ficar, ele vai cumprir". Deixei bons amigos lá na Itália. E aí vim, comecei a estudar. Dez anos sem estudar porque estamos falando de 2008, 2009. 2010 eu fiz o vestibular para o segundo semestre. Era o meu sonho estudar aqui na USCS! Sempre eu passava de ônibus aqui, só que era muito caro, não tinha condição, como que eu ia pagar 700 reais? Não tinha esse dinheiro. E quando eu voltei da Itália, eu chutei tudo para cima, eu não tinha um emprego, não tinha nada. Aí comecei a trabalhar e, claro que em 2010 no começo do ano, fevereiro, comecei a trabalhar com vendas e vendas é assim, quando você vende, você ganha bem, e como eu estava começando o trabalho, esses seis meses foram muito de garimpar mesmo cliente. Eu lembro até hoje que quando eu fui fazer a minha, pagar a matricula, eu não tinha o dinheiro completo. Não tinha, não tinha, falei: "Meu Deus". Foi a maior guerra para arrumar 40 reais, para você ver, como pode, né? Hoje eu vejo, não que seja pouco para mim hoje, mas eu valorizo justamente por não ter. Consegui fazer o vestibular, passei na prova, que era um milagre, tanto tempo sem estudar, claro que eu estudei, comecei a ler um monte de livros, consegui passar, até hoje eu não sei qual é a minha colocação, depois vou buscar ver como é que foi. O importante é que eu estou dentro. Passei. Maior orgulho. Cheguei em casa: "mãe, passei no vestibular". Olha, no vestibular, hein! Eu estou dizendo que eu já tinha 28 anos e passei no vestibular. Que alegria, né! Porque era um sonho meu. Eu fui para o futebol porque a minha mãe não tinha condição de pagar uma faculdade para mim, gente pobre, como é que vai pagar? Aí, eu paguei o vestibular, passei. Quando foi para pagar a matrícula, tinha as datas para pagar. Eu não tinha na primeira, eu tinha... Acho que 400 reais e 400 reais que uma pessoa me deu, que viu que eu não tinha, sei lá o que passou no coração dessa pessoa, acredito que foi Deus que tocou nessa pessoa para me ajudar. Ela foi e me deu 400 reais, falou "eu não posso te ajudar com tudo, mas eu vou te dar esse dinheiro". Eu já fiquei "nossa, é um sinal, Deus vai me dar esse dinheiro, porque Deus não ia me dar só a metade e falar está vendo, era só para fazer você ficar motivado, mas você não vai ter". Quando chegou no último dia, como eu trabalhava na 25 de março na ocasião, a minha chefe me chamou: "o chinês aqui antecipou uma comissão para você". Chinês antecipar comissão? Os caras dá tchau com a mão fechada, eles são pior que turco, não tem amizade, eles são muito profissional, não tem essa conversa de afinidade com chinês, não tem mesmo! E nesse dia, eu tinha ido vender, eu não vendi nada, nada, nada eu fiquei muito triste. E eu não reclamo de nada, aprendi a não reclamar. Falei "Deus, amém, se o Senhor não quer que eu faça faculdade, é Tua vontade, mesmo não entendendo ela agora, eu vou te agradecer porque coisas melhores virão". Sempre acreditei nisso. E... Quando foi seis horas [18h] minha patroa falou isso aí. Eu peguei o dinheiro, liguei para a minha mãe na hora, mãe, sempre fui muito família, "mãe, a senhora não acredita, eu consegui arrumar o dinheiro, graças a Deus". Minha mãe ficou super feliz, eu também. E o dinheiro certinho. [15']
Eu tinha 600 reais. Eu tinha 400, aí me deram 300, ficou 600 reais, falei "graças a Deus". Para falar, que eu não tinha, eu tinha 610. Eu estava muito cansado, eu desci aqui em Utinga, falei "Deus, eu acho que eu vou até a minha casa para tomar um banho e volto para a faculdade para pagar", porque podia pagar até às oito da noite. Aí eu fiquei "mas eu só tenho dez reais, se eu for, vou ficar sem dinheiro, depois vou ter que voltar à pé para casa. Ah, mas eu vou para casa". Quando eu estava chegando no ponto de ônibus, eu peguei o rádio da empresa, eu estava, sei lá com quem eu estava falando, quando eu olho para o chão, eu vi uma notinha dobrada. Era 50 reais! [riso]. Mas eu fiquei tão feliz, eu já estava agradecendo a Deus pelo dinheiro que ele tinha me dado pela situação que aconteceu. Tem coisas, como tem coisas ruins que acontecem na sua vida, mas tem coisas boas que é preparada e eu acredito que para aqueles que são persistentes, para aqueles que não reclamam. Olha, eu fiquei tão feliz pelos 50 reais que eu olhei para cima e falei "Deus não precisava", porque como já tinha acostumado, não é acostumado, brasileiro aprende a passar dificuldade, por isso que nós somos criativos, porque quando a gente não tem dinheiro e tem falta de alguma coisa, a gente cria caminhos para que a gente sobreviva, porque brasileiro sobrevive e eu fiquei muito feliz. Quando chegou na faculdade, eu vim pagar 7:40 [19:40], sete e 40 da noite, eu fui um dos últimos, eu quase fechei o banco, super feliz já tinha passado a época de desconto, porque a faculdade dá um desconto para quem paga antes. Aquele dia, na época, era o Minciotti, o reitor, aí eu fui pagar a matrícula e a mulher me deu troco, falei "mas está errado", "não, Alexandre, a faculdade ainda liberou mais tempo para o desconto", então ainda me sobrou dinheiro [riso]. Eu sei que me sobraram 120 reais, eu sei que não daria até o final, porque eu pagava ônibus, vinha a pé, mas eu fiquei tão feliz, tão feliz! E assim eu entrei na USCS! Eu tenho o maior orgulho dessa história porque, nossa, como foi para mim importante e, desde então, eu comecei a trabalhar e aí começa a minha história no DCE. Eu só tinha o dinheiro da matrícula, eu não tinha mais condição e aqui, a faculdade, ela sorteava, na época, era alpha, quando eu entrei, eles faziam um monte de sorteios para a mensalidade e eles falaram assim "quem trabalhar, o DCE vai ajudar com algumas mensalidades" que para mim já estava bom. Aí falei "quando eu tenho que vir trabalhar?", "sábado e domingo", "eu venho!". E vinha mesmo! Eu vinha de sábado, vinha de domingo, não tinha horário. Por que? Era o único jeito que eu descobri para eu conseguir estudar. Eu lembro que teve um sorteio que tinha um projeto social na faculdade que sorteava mensalidade, mas não é só sortear, você teria que vir em todos, você poderia faltar um. Quando eu vim, tinha 20 pessoas para 50. Eu falei "nossa, eu sou tão pobre assim, só tem rico nessa faculdade aqui". Consegui, isso em 2010. Desde então, eu comecei a militar pelo DCE e pelos interesses do aluno. E eu comecei a ser ajudado e, desde então, desde 2010, que eu comecei a ir para o DCE. Infelizmente, naquele ano, o DCE perdeu. E aí falei "agora já era, lascou, não sei". Meu trabalho começou a me ajudar muito também.
Pergunta:
Você diz o DCE, mas a chapa que... [interrupção do entrevistado]
Resposta:
É, a chapa que... [interrupção da entrevistadora]
Pergunta:
Como era a estrutura do DCE? Como é que funcionava? Como é que funciona?
Resposta:
A estrutura do DCE é assim: presidente, vice-presidente, secretário geral e os diretores. Aí tem os diretor de eventos, diretor social, diretor cultural, tem os adjuntos do diretor também. Então a chapa é composta, hoje, atualmente, de 13 nomes. Na época eram não sei quantos, não me recordo. Só que todo ano, o DCE tem eleição e, aquele ano, o DCE perdeu, inventaram um monte de mentiras contra o presidente atual, mas eu ajudei, mesmo com vergonha, eu tinha a maior vergonha de pedir voto assim [riso] porque eu não sabia como falar com os universitários, eu sabia como falar com os caras da bola, o pessoal da bola, mas com o pessoal do DCE não, perdemos e daí saiu a Atlética, que eu acho que o Deco, o Marcel, eu acho que ele contou um pouco. Esse presidente, na ocasião, montou um time e sugeriu para a faculdade montar uma Atlética porque a Atlética estava parada. E aí nós continuamos, demos uma força para o Marcel para a Atlética. Agora no ano passado, nós montamos uma chapa, Atlética Geral, porque esse DCE que ganhou em 2010, ele brigava muito com a gente. Eles não queriam fazer nada, compor, eles não queriam, era só o lado deles: "É nós e vocês o problema é de vocês". Não é bem assim, né? Eu acho que uma Atlética e um DCE têm que representar uma faculdade e eles têm que caminhar juntos porque divisão não dá nada. [20']
"Casa dividida não prospera" e, de fato, é verdade. Não tem como duas pessoas com as mãos dadas irem para dois caminhos. Ou elas escolhem um caminho e vão juntos, senão não tem como. E daí saiu o DCE atualmente, que é Inove, de inovação, de pessoas que querem crescer, de fazer a nossa faculdade crescer e hoje, quem diria, eu, menino, menino não, né, porque eu já tinha uma história já, eu só não tinha uma formação, eu só não tinha uma graduação, mas a minha formação já estava clara. Eu sabia o que eu queria fazer. Hoje, o meu curso, eu faço Comunicação. Vou, esse semestre agora, para Publicidade e Propaganda. Tive um tempo, seis meses, de Jornalismo, mas eu vi que não é, não quero escrever, é sensacional a matéria, muito legal, mas nós temos que fazer o que a gente gosta e hoje eu vejo que Publicidade é uma coisa que é bacana para mim, eu gosto de me comunicar, eu gosto de falar, gosto de ensinar também porque eu gosto de aprender [riso], eu acho que quem gosta de ensinar primeiramente tem que gostar de aprender. Para me comunicar melhor com as pessoas, eu acho que...
Pergunta:
E por que o seu interesse em Publicidade?
Resposta:
Depois dessa experiência no Jornalismo, eu vi que a Publicidade, o atendimento eu acho que é a minha cara, eu gosto de vender! Eu sou um bom vendedor, eu me considero um bom vendedor. Para ficar na 25 de março, na região da 25 tem que ser bom mesmo. Eu aprendi muito! E eu acho que Publicidade vai de encontro com aquilo que eu gosto, de aprender a ser um bom comunicador ou numa peça publicitária passar algo importante porque o algo importante não está no muito falar não, está no que você fala bem falado, mesmo que tenha duas palavras. Então, eu acredito que vai ser esse o meu caminho. Se daqui para frente eu me graduar em outras coisas também, porque depois que você faz uma graduação, é que nem o futebol, quanto mais eu treinava mais eu queria treinar, quanto mais você estuda, mais você quer estudar, então isso que é o legal, o que fascina no estudo é isso, uma pessoa que não gosta de, porque eu não gostava de estudar, meu negócio sempre foi execução: jogar bola, treinar, físico, físico. E hoje, estudando, eu vejo que tem um mundo aí de estudo, é legal.
Pergunta:
E a opção pela comunicação, como você percebe isso? Você tinha esse envolvimento forte com o esporte. Você não pensou em graduações na área de esporte?
Resposta:
Não, não, não porque tudo que eu tinha que ver no esporte, eu vi. Como que é o campo, extra-campo e eu falei "eu quero ser um comunicador, eu quero ser um comunicador". Até pensando em trabalhar na área também, quem sabe? Porque ainda não perdi os contatos que eu tenho no futebol, amigos que eu conquistei no futebol. Então eu falei "não". Todo mundo achou: "você vai fazer Educação Física", "não vou, eu vou fazer a graduação em Comunicação, quero aprender a falar, eu quero ser um bom comunicador, eu quero que quando as pessoas ouvirem o que eu estou falando, elas entendam, de fato, a mensagem que eu quero passar, sem sombra de dúvida, sem ambiguidade nenhuma, quero, de fato, passar uma informação para que as pessoas possam me ouvir e entender o que eu quero passar".
Pergunta:
E hoje você trabalha com o que?
Resposta:
Hoje eu trabalho... Atualmente, hoje estou trabalhando na Coordenadoria da Juventude. Ligado com a Comunicação eu tenho um Projeto Político também, foi por isso que eu escolhi a Comunicação. Hoje eu trabalho na Coordenadoria da Juventude de São Caetano do Sul, eu trabalho no administrativo e faço parte do Núcleo de Projetos para a Juventude na cidade. Essa é a minha meta: influenciar pessoas para o bem. Hoje eu estou muito feliz onde eu trabalho.
Pergunta:
E suas atividades no DCE, quais são?
Resposta:
As minhas atividades do DCE, olha... [riso]. É bacana trabalhar com aluno porque o DCE às vezes são muitos problemas dos alunos com a faculdade. Toda instituição tem os seus problemas, a maioria deles é com professor [riso], porque as vezes o professor se exalta dentro de sala que é natural. Por que é natural? Porque é ser humano. Tem dia que você está mal mesmo, tem dia que você não acorda bem. Então, a maioria deles é reclamação dos professores, dos professores, não dos, estou dizendo, não é macro, é pontuais, poucos, não são todos não, do jeito que eu falei parece que... Um professor. "Minha sala está sem ar condicionado". Na última agora, aumentou a prova substitutiva de 12 para 25, então a galera: "O DCE tem que fazer isso" e quando não é isso, é os nossos projetos. [25']
Projeto social, a gente desenvolve projeto social, tem o nosso projeto "Som no Pátio" que toda terça e quinta aqui no Campus Barcelona tem. Antigamente tinha, então nós resgatamos isso para o aluno, que é bacana uma música no pátio para descontrair. Aí a gente abre oportunidade para os alunos também, que sempre tem uns artistas. Muito aluno! Estão dizendo aí de quase 7, quase 8 mil alunos que tem nos dois prédios, no Campus Barcelona e no Campus Centro e lá no Campus Centro é uma vez por mês só justamente porque lá tem a Pós-graduação para não atrapalhar o intervalo e agora com, o professor disse que assim que esse projeto voltar, quando haver no intervalo, porque no intervalo, ele desce toda a sala para prestigiar o nosso projeto. Então, o DCE é isso. É trabalhar com os alunos, apoiar a Atlética também, tudo que a Atlética for fazer, festa, trote que o DCE também trabalha com trote, nada de um trote de bullying, não é um trote para deixar ninguém com vergonha para voltar a estudar, não, mas é um trote de confraternização, de relacionamento que eu acredito muito nisso. Com quem se relacionamos hoje é o que seremos amanhã. Então, se se relacionamos com pessoas relevantes hoje, amanhã seremos relevantes. Se se relacionamos com pessoas medianas ou medíocres, amanhã seremos medianos. Então, o DCE é isso: é a voz do aluno perante a Reitoria e é por isso que nós estamos hoje, ano passado nós tivemos 1017 votos, foi uma das maiores votação, dizem que em dez anos não houve. Então, de tão querido que a nossa chapa é, então isso a gente deve aos alunos. Muito bom você saber que quem te colocou foram os alunos e uma das nossas bandeiras foi não querer repasse. Não que nós não precisamos de recurso, mas nós só pegamos recurso mediante a projeto. E nós descobrimos nesses seis meses que muita coisa não precisa de dinheiro para fazer. Então foi criada essa cultura do DCE ter uma verba da faculdade que é do aluno, que tem que ser usada de uma forma honesta, e nós vimos que "olha, está vendo, galera, muita coisa é parceria, nós podemos receber de graça, não precisa pegar dinheiro da faculdade". Agora, algum projeto ou outro, camisetas, isso a gente pede para a faculdade, aí a faculdade paga as camisetas e, inclusive, essa última agora, "orgulho de ser USCS", uma parceria com a Atlética do DCE, fez o maior sucesso. Todo mundo gostou. E a nossa ideia hoje do DCE, e tenho certeza que o da Atlética também, é trabalhar a marca da nossa faculdade, fazer que quem estiver aqui nessa faculdade tenha orgulho de estar na USCS e essa é a minha meta. Eu falei "galera, a meta nossa é essa". Primeiro era fazer a Atlética Geral ser a mais conhecida do estado e hoje tem muita, até o governador conhece a Atlética [riso]. E o DCE também. O DCE, ano passado, o vice-presidente tirou uma foto com a nossa camiseta, eu estava ao lado dele e mais um rapaz da nossa chapa. Mas não é ser conhecido, é ser conhecido pelo que faz, porque você pode ser muito bem conhecido e não fazer nada, você pode simplesmente tirar foto ao lado de alguém e falar "eu fiz", mas não, eu quero ser reconhecido pelos alunos e não só pelos alunos, mas fazer os alunos serem participantes também. São pessoas que, de fato, querem mudar a sociedade através de um DCE.
Pergunta:
E os projetos sociais?
Resposta:
O projeto social, a gente trabalha muito em Santo André, em algumas regiões de Santo André, orfanato, comunidades entregando alimentos, dia das crianças, nós trabalhamos muito nisso que é muito bacana mesmo. Festa da pizza, Papai Noel, agora ainda não chegou a época do Papai Noel, mas o ano passado se vestimos de Papai Noel. O ano passado nós fizemos um projeto dentro da faculdade, nós trouxemos uma comunidade lá de Itaquera, nós trabalhamos com 40 crianças, mas são 40 crianças que parece que são 400 porque, como que pode, né? As crianças do ABC, o comportamento delas é um jeito e o comportamento dessas crianças ali do Itaquera, elas são mais agressivas justamente pela falta, você vê a falta que faz uma família e não estou ligando a dinheiro, a falta que faz um pai e uma mãe estarem juntos. Santo André é um jeito e lá é outro. Nós pegamos só 40 crianças para começarmos um trabalho com elas. Mas esse é o nosso projeto de arrecadação de roupa, alimento. Agora, recentemente, a gente também está ajudando um fundo de solidariedade de São Caetano que eles ajudam muito lugares, muito, não é só São Caetano, lugares aqui da Grande São Paulo toda, então hoje a gente tem eles como parceiro também para ajudar, porque a nossa ideia é ajudar, eu acho que nessa vida aqui a gente tem que pensar um pouco menos na gente e pensar no próximo. [30']
Eu acredito que quando a gente se move para as pessoas, Deus se move para nós [riso]. Quando a gente deixa de pensar nos nossos problemas, Deus começa a trabalhar, o mundo começa a trabalhar a nosso favor. Deus começa a mover os pauzinhos lá para que as coisas começam a acontecer. Eu acredito muito nisso, é a minha verdade.
Pergunta:
A gente está com uma comemoração de 45 anos da Universidade. Você diz aí que desde pequeno você tinha essa coisa de passar na frente e ter vontade de estar aqui. Hoje você está na Universidade, numa Universidade que completa 45 anos. Pensando nisso, o que vem na sua cabeça?
Resposta:
Primeiro eu fico feliz, porque você imagina: eu tinha 18, 16 anos, eu tinha o sonho de estudar e olha, depois de quantos anos, hoje eu estou fazendo parte do vídeo de 45 anos. A minha prima estudou aqui, a família, tinha a parte da família rica e a família pobre, eu era da parte pobre da família: "Vocês nunca vão estudar". Eu falei: "não, mas eu vou, eu vou porque eu vou dar esse orgulho para a minha mãe". Hoje, na minha casa, só um não é formado, todo mundo hoje tem formação. A minha irmã está na graduação, não, está na pós, e hoje eu estou na faculdade que eu quero, eu estou no lugar que eu quero estar, que eu sempre quis estar, que era aqui dentro da USCS estudando, então eu estou muito feliz por isso, de ser chamado, de ser escolhido para estar fazendo parte. E aqueles que não acreditaram, hoje eu não ligo mais para o que as pessoas falam, eu continuo fazendo, porque o nosso trabalho, ele que responde para as pessoas. E aqueles que falaram que eu não ia conseguir, hoje não vão poder mais falar, no máximo abaixar a cabeça, vão falar "verdadeiramente você é um cara guerreiro e Deus está do seu lado". E eu creio que Deus está do lado de todo mundo que acorda cedo, que não quer o mal de ninguém, então eu estou muito feliz por estar nesses 45 anos que era IMES antes [riso], que eu conheci como IMES e hoje é USCS, então eu estou muito feliz, eu não teria palavra para mensurar isso, a felicidade. Eu sei que, eu acho que eu estou no lugar certo, na hora certa porque eu plantei. E tem um provérbio que diz que eu acho que se eu estou hoje onde eu estou hoje é, ele fala assim: "Aquele que faz a sua obra com excelência, com sábios farão a sua morada". Então "aquele que faz a sua obra com excelência", e eu busquei fazer isso com excelência, trabalhar, estudar, "com sábios farão a sua morada" e a massa pensante hoje é a faculdade, então acredito que hoje eu estou no meio dos sábios que serão sábios daqui para frente, eu estou na USCS, então eu agradeço muito a Deus por essa oportunidade.
Pergunta:
Muito obrigada!
Resposta:
[aceno afirmativo com a cabeça]
Pergunta:
Tem mais alguma coisa que você queira contar, que você queira deixar registrado?
Resposta:
[o entrevistado ficou em silêncio pensando na resposta] Ah, eu acredito que mais uma assim, para a gente ter mais respeito com as pessoas, que quando alguém tratar a gente mal, certamente essa pessoa deve estar passando por um problema, que a palavra dura suscita a ira, mas a calma abranda o furor. Que quando alguém te tratar mal, não trate essa pessoa mal, trate ela da forma que você queira ser tratado, trate ela bem, trate ela com amor porque assim a gente consegue fazer a diferença, porque o amor constrange, eu finalizo com amor, o amor constrange, quando a gente trata as pessoas com amor... E Madre Tereza de Calcutá sempre falava isso: "mas as pessoas estão te tratando mal, Madre Tereza. E aí, o que a Senhora fala?", "ela faz o que é do caráter dela e eu continuo fazendo o que é do meu". Então se o seu caráter não é tratar bem as pessoas, não é tratar com amor, que você comece a tratar, você vai ver que as coisas vão mudar. É isso.
Pergunta:
Muito obrigada!